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É Desporto

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10 de Julho, 2020

Shin A Lam. Perder a «vida» num segundo

Rui Pedro Silva

Shin A Lam

Esgrimista sul-coreana bateu o recorde olímpico de lágrimas derramadas depois de perder de forma trágica no duelo das meias-finais. Durante um curto espaço de tempo, Shin A Lam julgou que tinha garantido a vitória mas afinal ainda havia um segundo para disputar. E aí, de forma surpreendente, a alemã Britta Heidemann conseguiu um toque decisivo.

Conhecem a famosa lengalenga, muito utilizada na prevenção rodoviária, que mais vale perder um segundo na vida do que a vida num segundo? Se alguma vez se cruzaram com Shin A Lam, uma sul-coreana nascida a 26 de setembro de 1986 e uma das melhores esgrimistas asiáticas, não se espantem se ela não gostar muito da expressão.

Em julho de 2012, durante os Jogos Olímpicos, Shin A Lam sentiu que tinha, de facto, perdido a vida num segundo. E poucos instantes depois de ter sentido o sabor da vitória a descer-lhe pelo corpo.

A história explica-se de forma curta mas dolorosa. O resultado entre Lam e Heidemann estava empatado e, de acordo com os regulamentos, a sul-coreana teria direito ao triunfo se não houvesse qualquer toque durante o minuto de morte-súbita. E foi isso que aconteceu. Ou assim pensou Lam.

Instantes depois, o relógio foi ajustado para um segundo. Lam teria tudo para evitar o toque naquela margem curtíssima, mas a alemã arriscou e conseguiu algo impensável. A sul-coreana nem queria acreditar, sentando-se na estrutura e chorando compulsivamente.

«Acho injusto. O segundo já tinha terminado. Acho que devia ter vencido», disse na conferência de imprensa, pouco tempo depois, através de um intérprete. Pior: no duelo pela medalha de bronze, Shin A Lam voltou a perder, desta feita contra a líder do ranking mundial, a chinesa Sun Yujie.

A esgrimista teve muitas dificuldades para se conseguir recompor. Tinha perdido uma vida de trabalho naquele segundo, quando tudo estava encaminhado para garantir, no mínimo, a primeira e única medalha individual da sua carreira.

«Não entendo como é que isto pode ter acontecido e não vejo mesmo forma de expressar o que estou a sentir neste momento. Ando a tentar e a trabalhar para uma medalha há quatro anos e agora perdi-a num segundo. É impossível de aceitar. Ainda não sei, tal como a maior parte das pessoas, por que razão o jogo não foi declarado finalizado antes do toque», continuou.

A federação defendeu-se, escudando-se num problema técnico provocado por ter havido um toque duplo a um segundo do fim. Do outro lado, Brita Heidemann foi fiel à mentalidade germânica: «Sempre que há um toque é uma questão de um segundo. Também já passei por isto e estou feliz com a decisão que foi tomada. A discussão é desnecessária».

Nem tudo foi mau para Shin A Lam. Na semana seguinte, na prova por equipas, integrou a seleção da Coreia do Sul que, de forma algo surpreendente, chegou à final com a China. As sul-coreanas podem ter perdido mas pelo menos Lam conquistou uma medalha de prata.

E não foi a única daquela edição. Sensível ao sofrimento de Shin A Lam, a federação internacional de esgrima, decidiu-se pela atribuição de uma «medalha especial» à sul-coreana, atribuída com base no «objetivo de vitória e respeito pelas regras».

E será que Shin A Lam gostou da distinção? «Não me faz sentir melhor porque não é uma medalha olímpica. Não aceito o resultado porque acho que foi um erro.» Lá se foi o respeito pelas regras, acrescentamos nós.

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