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É Desporto

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08 de Abril, 2021

Ronda Rousey. O dia em que a invencibilidade chegou ao fim

Rui Pedro Silva

Holly Holm atinge Ronda Rousey

Toda a gente sabia como o combate ia ser mas quem devia ter evitado a derrota não foi capaz. Ronda Rousey perdeu. A norte-americana era até novembro de 2015 a mulher mais temível nos desportos de combate, mas o combate número 13 no UFC foi sinónimo de azar.

Em Melbourne, na Austrália, na primeira vez que lutou sem ser no continente americano, a campeã perdeu. O título de peso-galo estava em jogo e a compatriota Holly Holm, antiga campeã mundial de boxe, não desperdiçou a oportunidade.

O favoritismo estava do lado de Ronda Rousey. E provavelmente seria assim para sempre até surgir a primeira derrota. A superioridade era tão grande que o presidente da UFC, Dana White, falara mais de uma vez na possibilidade de organizar um combate contra homens. «Se derrubar a Cat Zingano como tem derrubado toda a gente, não sei o que fazer com ela [...] Vai ter de começar a lutar com homens», brincou.

Quem não brincava no octógono era Ronda: Zingano aguentou apenas 14 segundos a 28 de fevereiro de 2015 e a 1 de agosto foi a vez de a brasileira Bethe Correia cair, ao fim de 34 segundos. Ronda Rousey não se deixou levar pela possibilidade. «Não me parece que seja uma boa ideia ver um homem a bater numa mulher na televisão», afirmou ao The Daily Beast.

«Nunca me ouvirão dizer que perderia, mas a verdade é que podíamos ver uma rapariga a ser espancada por um tipo na televisão», lembrou, alertando para as questões que isso levantaria tendo em conta os episódios de violência doméstica nos EUA. «É divertido teorizar e falar sobre isso, mas é muito melhor na teoria do que na prática», defendeu.

Dana White não tinha motivos para ficar preocupado. Afinal havia pelo menos uma mulher capaz de derrotar Ronda Rousey. A campeã foi a primeira a realçar que o combate contra Holly Holm não seria decidido tão rapidamente como os anteriores. E até levantou o véu sobre a estratégia da adversária, numa aparição no início de outubro no programa de Jimmy Fallon: «Vai tentar manter a distância, ficar longe de mim e frustrar-me até ao ponto em que eu cometa um erro para que possa tentar dar-me um pontapé na cabeça. Mas não vai acontecer, não vai ser como ela quer».

Mas foi. Foi precisamente como a adversária quis. Com menos de um minuto decorrido no segundo assalto, Holly Holm aumentou a pressão sobre Ronda Rousey e aproveitou uma fração de segundo decisiva para atingir a cabeça da rival com o pé esquerdo. Depois de sofrer vários golpes na cara através de fortes socos de Holm com a mão esquerda, Ronda ficou caída no chão, perante a surpresa de 56 214 pessoas que tinham pagado o bilhete para assistir ao duelo no Etihad Stadium, casa do Melbourne Victory.

Ronda Rousey não foi a única a antever como o combate se ia desenrolar. «Tenho de dizer que tudo o que treinámos aconteceu esta noite. Nunca tinha passado tanto tempo no ginásio antes de um combate na minha vida», revelou Holly Holm, lutadora de 34 anos com um registo de 10-0. Greg Jackson, um dos seus treinadores, corroborou a versão: «Foi praticamente tudo aquilo que achávamos que ia ser. Obviamente que [Ronda] é uma grande atleta e temos todo o respeito por ela, mas teve sucesso a fazer sempre a mesma coisa durante muito tempo. Nós soubemos aproveitar».

Rousey foi dominado por Holm

O segredo residiu na preparação. «Eu e os outros treinadores juntámo-nos e não nos rendemos à perspetiva que os adeptos têm, de que a Ronda é a melhor do mundo. Para nós era apenas um problema matemático. O nosso trabalho era perceber como podíamos ganhar, essa perspetiva é que era difícil.»

Para outro dos treinadores, Mike Winkeljohn, esta vitória foi apenas o começo: «As pessoas começaram a ver muito do que a Holly pode fazer. Sabíamos que íamos lutar com a Ronda Rousey um dia, por isso a Holly nunca quis mostrar todos os trunfos. Mesmo nesta vitória ainda não mostrou tudo o que é capaz de fazer».

Para ganhar em Melbourne foi suficiente. «Sabíamos o que a Holly ia fazer. Tínhamos de arranjar forma de dar a volta e manter a pressão. Falámos sobre isso mas a Holly fez um bom trabalho a mexer-se e manteve-se calma», afirmou o treinador de Ronda Rousey, Edmond Tarverdyan.

«A Ronda pediu-me desculpa e eu disse-lhe que ela ainda é a melhor, e que falaríamos melhor sobre os planos depois do descanso. Ela precisa de descansar, não é fácil lidar com tudo o que tem estado a acontecer. Precisa de tempo para descansar e depois disso vamos perceber o que é melhor para a sua carreira.»

Para o maior responsável da UFC, Dana White, a estratégia de Holly Holm também não trouxe surpresa. «Não havia dúvida de que iria ser precisamente desta maneira que a Holly ia combater, por isso a questão era saber se a Ronda ia tentar acompanhar a estratégia. Por isso estar aqui a questionar a estratégia é tão estúpido como pensar que esta combate não foi bom», acusou.

A vitória foi um desfecho natural para Holly mas demorou a provocar efeito. «Ainda estou a tentar assimilar tudo, isto é uma loucura. Senti tanto apoio ao chegar aqui, pensei ‘como é que posso não ganhar depois disto tudo?’» Do outro lado, a queda de Ronda Rousey foi estrondosa. A norte-americana que tinha demorado dois minutos e dez segundos a vencer os quatro combates anteriores saiu combalida e foi transportada para o hospital para tratar dos golpes que sofreu no rosto e como precaução após o knock-out da derrota.

Edmond Tarverdyan confidenciou que Ronda Rousey lhe tinha pedido desculpa pela derrota e Dana White acrescentou que a lutadora norte-americana estava «devastada mas bem fisicamente».

O que começou por ser «apenas» o fim da invencibilidade tornou-se também o fim da carreira. Ronda Rousey só voltou a combater uma vez, em dezembro de 2016, e perdeu aos 48 segundos do combate contra a brasileira Amanda Nunes.

A aura graciosa tinha desaparecido completamente. A despedida nunca foi confirmada por Ronda Rousey mas a improbabilidade de voltar ao octógono foi validada durante uma entrevista com Ellen DeGeneres. «Acho que voltar a combater é tão possível como voltar aos Jogos Olímpicos», brincou a antiga judoca, medalha de bronze em Pequim-2008.

A carreira de Holly Holm também não voltou a ser tão brilhante. A lutadora perdeu cinco dos sete combates seguintes, incluindo os três imediatamente posteriores, e tem atualmente um registo de 14 vitórias e cinco derrotas.

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