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É Desporto

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04 de Junho, 2018

Oleg Salenko. A chave de ouro de uma carreira sem metais preciosos

Rui Pedro Silva

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Jogo contava para muito pouco mas foi histórico: um russo marcou cinco golos num só jogo, batendo um recorde em fases finais, e um camaronês bateu outro, ao marcar com 42 anos. O 6-1 da Rússia aos Camarões pode não ter sido mais do que uma nota de rodapé no Mundial-1994 mas tornou-se o momento definidor na carreira de Salenko. Para mal dos seus pecados. 

 

Um nome inesquecível

 

Vamos ser honestos: quantos de vocês conseguem debitar factos da carreira de Oleg Salenko que nada tenham a ver com o Mundial-1994? Ou, melhor ainda, quantos factos conseguem dizer, que saberiam dizer do mesmo modo, caso Salenko nunca tivesse marcado cinco golos aos Camarões numa tarde de calor abrasador a 28 de junho de 1994?

 

Damos as nossas respostas: jogou no campeonato espanhol, jogou pela Ucrânia e marcou ao Benfica; zero. É certo que a idade tenra em 1994 não ajuda mas a verdade é que tudo o que sabemos sobre Salenko está direta ou indiretamente ligado àquele jogo do grupo B do Mundial que já não tinha grande interesse (talvez com um grande milagre ainda fosse possível figurar entre os melhores terceiros).

 

Estamos seguros de que não somos os únicos a estar nesta situação. É natural. Os cinco golos de Oleg Salenko no Mundial-1994 estão para a sua carreira como o Take on Me está para os A-Ha. Foram one-hit wonders que conquistaram o mundo e pelo qual serão sempre relembrados mas… tirando isso, houve sempre muito pouco. Ou quase nada.

 

Antes de irmos ao que interessa, aqui fica um apanhado da carreira (extra-mundial) de Salenko: nasceu em Sampetersburgo em 1969 e começou a carreira sénior no Zenit, antes de dar o salto para o Dínamo Kiev, onde esteve entre 1989 e 1992 e marcou ao Benfica no célebre jogo da lesão de Rui Águas. Quando o Mundial chegou, atuava pelo Logroñes, dando depois o salto para o Valencia. Jogou ainda na Escócia, na Turquia e na Polónia, país onde acabou a carreira em 2001. Ah, e foi o melhor marcador do Mundial de Riade, quando Portugal conquistou o título sub-20 pela primeira vez.

 

Um mês para a história

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Oleg Salenko chegou ao jogo com os Camarões com um golo pela Rússia, precisamente no Mundial, mas contra a Suécia. A fase final foi um carrossel de emoções para o futebolista: começou no banco contra o Brasil, marcou à Suécia e, no último jogo que viria a fazer pela seleção, fez cinco golos contra os Camarões. Meteórico na ascensão e na queda.

 

Naquela tarde em Palo Alto, no estádio de Stanford, Salenko pareceu jogar em digital enquanto todos os outros estavam em analógico. Inaugurou o marcador aos 16 minutos, bisou aos 41 e foi para o intervalo com um hat-trick, graças à conversão de um penálti aos 44.

 

A abrir a segunda parte, Roger Milla assumiu um lugar de destaque na história do jogo, ao marcar com 42 anos, mas Salenko ainda não tinha terminado a sua festa. Com o póquer, aos 62 minutos, passou a partilhar o recorde de golos num jogo da fase final com nomes como Kocsis, Fontaine ou Eusébio. Três minutos depois, decidiu que não gostava muito de partilhas e somou mais um, terminando a tarde com cinco golos, elevando para seis a conta na fase final.

 

Insatisfeito, ainda foi a tempo de fazer a assistência para o sexto golo da Rússia, autoria do seu colega de quarto, Dmitri Radchenko. «Estava no quarto com ele e acabámos por marcar os dois. Na noite antes do jogo sonhei que ia marcar muitos golos. Às vezes, temos premonições destas, mas nunca pensei que iria marcar cinco», contou numa entrevista à FIFA.

 

Recorde por acréscimo

 

Os russos queriam ganhar pela maior margem possível, para alimentar as esperanças de atingir os oitavos de final, e Salenko não pensou no que estava a fazer. «Não pensei em nada durante o jogo. Disseram alguma coisa nos altifalantes mas estava concentrado no jogo e não consegui ouvir bem. Ainda por cima foi em inglês».

 

«Depois do apto final, fui com o Radchenko a um controlo antidoping. O jogo foi à tarde e estavam 40 graus. Estávamos desidratados e tivemos de esperar uma hora e meia. Os jornalistas estavam todos a falar do recorde mas nunca chegou até mim. Só percebi mesmo que tinha um recorde do Mundial depois de terminar a minha carreira», recordou.

 

Tantos anos depois, Salenko continua a reagir ao feito com humildade e a recusar qualquer protagonismo. «Quando me pedem, deixo o troféu de melhor marcador em exibição em Kiev, para que as pessoas possam ver, olhar para ele e tirar fotos. Gostava que pudesse vir a ser um foco de atenção no Mundial-2018, porque é um reconhecimento a toda a seleção russa, não apenas meu». 

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