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É Desporto

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04 de Março, 2020

O curioso caso de Stanislawa Walasiewicz

Especial Jogos Olímpicos (Los Angeles-1932)

Rui Pedro Silva

Stanislawa Walasiewicz

Foi campeã olímpica dos 100 metros em Los Angeles-1932 com um novo recorde mundial e ganhou uma medalha de prata na mesma prova, quatro anos depois. Era uma atleta dominadora e viveu durante anos como uma mulher de plenos direitos. Mas a autópsia em 1980 revelou pormenores diferentes.

Nasceu a 3 de abril de 1911 na Polónia mas viveu desde os três meses nos Estados Unidos. Em Cleveland, no estado do Ohio, cresceu com uma grande ligação ao atletismo e não precisou de muito tempo para demonstrar que tinha qualidade para fazer a diferença. Por outro lado, como continuava a ser legalmente polaca, não podia competir na maior parte das provas.

Em 1932, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, apareceu na comitiva polaca. Os 21 anos acabados de fazer já lhe permitiam representar os Estados Unidos – e esteve perto de acontecer – mas decidiu ser fiel ao país que a viu nascer e que tanto a apoiou enquanto dava os primeiros passos como atleta.

Stanislawa era uma verdadeira heroína na Polónia e ainda mais se tornou depois de conquistar a medalha de ouro nos 100 metros e igualar o recorde mundial de 11,9 segundos. Recebida com pompa e circunstância, manteve-se fiel à Polónia, recebeu várias distinções e menções honrosas, e surgiu novamente em Berlim-1936, para conquistar a medalha de prata nos 100 metros. O título fugiu para Helen Stephens por apenas dois centésimos.

A comitiva polaca não gostou da vitória de Stephens e exigiu que fosse realizado um teste para garantir que a norte-americana era mesmo uma mulher. E era.

Com a carreira olímpica encerrada e a sucessão de acontecimentos na Europa que levariam à II Guerra Mundial, Stanislawa Walasiewicz regressou definitivamente aos Estados Unidos, venceu vários campeonatos e tornou-se finalmente uma cidadã norte-americana em 1947, passando a responder pelo nome de Stella Walsh.

A 4 de dezembro de 1980, praticamente cinco décadas depois dos seus maiores momentos de glória, Stella foi assassinada durante um assalto num parque de estacionamento em Cleveland. Tinha 69 anos e uma história por contar. De acordo com a autópsia realizada, foi confirmado que a antiga atleta não tinha útero, possuía uma uretra invulgar e um pénis subdesenvolvido e sem funcionalidade. O médico-legista chegou à conclusão de que Stella era, de facto, intersexual.

A novidade não teve consequências práticas. Todos os documentos apontavam que era uma mulher e, de facto, Stella sempre viveu social, cultural e legalmente como uma mulher, sublinhou o médico. O Comité Olímpico Internacional não interveio perante os novos dados e, ainda hoje, 88 anos do título, Stanislawa Walasiewicz continua a figurar na lista de medalhados de Los Angeles-1932.

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