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É Desporto

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14 de Outubro, 2019

Magdeburgo. A jóia da coroa da RDA

Rui Pedro Silva

Jogadores festejaram Taça das Taças perante bancadas vazias

Não foi tantas vezes campeão como o Dínamo Berlim ou o Dínamo Dresden, e nem sequer era visto como a melhor equipa da República Democrática da Alemanha, mas em 1974 conseguiu um feito histórico: tornou-se o único clube da RDA a vencer uma final europeia. Havia apenas 288 alemães nas bancadas.

A Oberliga teve 12 campeões diferentes entre 1948 e 1991. O futebol na RDA foi sofrendo sucessivas revoluções e as hegemonias não conseguiam durar muito tempo, excepto quando consolidadas pelo apoio da Stasi. Foi assim que o Dínamo Berlim conquistou dez títulos de campeão… de forma consecutiva.

O Dínamo Dresden surge logo a seguir na lista, com oito títulos espalhados por várias décadas, enquanto o Vorwärts Berlim – equipa que nasceu com jogadores roubados ao BSG Chemie Leipzig – fecha o pódio com seis. Depois, com três campeonatos, surge um trio: Carl Zeiss Jena, Wismut Karl Marx Stadt e… Magdeburgo.

O Magdeburgo viveu uma época verdadeiramente gloriosa na primeira metade da década de 1970. Conquistou a Oberliga em 1972, 1974 e 1975 e, mais importante ainda, fez história na edição da Taça das Taças de 1974.

O progresso foi imparável: eliminou o NAC Breda na primeira ronda (2-0), o Banik Ostrava na segunda (3-2), o Beroe Stara Zagora nos quartos de final (3-1) e o Sporting nas meias-finais (3-2, numa eliminatória famosa por ter terminado poucas horas antes do 25 de Abril).

Em Roterdão, a 8 de maio de 1974, a geração de Sparwasser e companhia jogou perante 4641 espetadores. Do outro lado, estava o Milan de Gianni Rivera orientado por Giovanni Trapattoni. Era a primeira presença de uma equipa da RDA numa final e o país tinha razões para estar entusiasmado.

Então como se explica a assistência tão reduzida na Banheira de Roterdão? A liberdade de viajar era tão restrita que a comitiva afeta ao Magdeburgo era composta apenas por 288 pessoas, muitas delas com cargos políticos e longe de serem verdadeiramente adeptas do clube.

Aquela noite era a mais importante da história futebolística da República Democrática da Alemanha e não havia praticamente ninguém a ver a vitória por 2-0 (autogolo de Lanzi aos 42' e Seguin aos 74'). Mas o orgulho local – a média de idades era de 23 anos e a esmagadora maioria dos futebolistas tinham sido formados em equipas das localidades vizinhas – fez a diferença no regresso à RDA.

Dois dias depois, em Magdeburgo, milhares de pessoas receberam em euforia os heróis de Roterdão. A um mês do Mundial-1974, a RDA estava a viver, de longe, o seu melhor período futebolístico. Primeiro com a Taça das Taças, depois com o triunfo na fase final frente à RFA, com o golo a ser marcado por… Jürgen Sparwasser, jogador do Magdeburgo.

O sucesso do clube foi fugaz. O período dos títulos faz parte do passado, a era gloriosa apagou-se da mesma forma que se acendeu e nada mais voltou a ser o mesmo. O treinador herói, Heinz Krügel, à semelhança de tantos outros na história da RDA, era uma pessoa com pensamentos demasiado desafiadores para serem acolhidos pelas autoridades e, sem grande surpresa, acabou despedido em 1976 e banido pela federação por «não desenvolver suficientemente os atletas olímpicos no Magdeburgo». O sucesso do Magdeburgo desapareceu com ele.

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