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É Desporto

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26 de Março, 2020

Lis Hartel. A vítima de poliomielite que foi pioneira na dressage

Especial Jogos Olímpicos (Helsínquia-1952)

Rui Pedro Silva

Lis Hartel

Os  Jogos Olímpicos de Helsínquia, em 1952, foram os primeiros a permitir a participação de não-militares e mulheres nas provas de equestre. A dinamarquesa Lis Hartel aproveitou para se tornar a primeira mulher a ganhar uma medalha em direta competição com homens. O mais impressionante? Estava paralisada dos joelhos para baixo.

Um surto de poliomielite na Dinamarca deixou a vida de Lis Hartel em risco. Tinha 23 anos, estava grávida e, numa questão de dias, ficou com o corpo paralisado. Podia ser campeã nacional de dressage e ter uma filha para nascer mas, naquele momento, tudo tinha ficado em risco.

A vontade férrea de Lis ajudou. Através de um determinado processo de reabilitação, começou a recuperar sensibilidade em algumas partes do corpo, deu à luz uma filha saudável e fez questão de voltar a montar um cavalo. Os membros superiores tinham sido afetados e não estavam a 100% mas o pior surgiu nos inferiores: tinha ficado irremediavelmente paralisada dos joelhos para baixo.

A logística para voltar a montar era complicada. Precisava sempre de auxílio para subir ao cavalo e os desequilíbrios eram constantes, abrindo caminho para quedas feias que podiam ter consequências mais graves.

Lis Hartel escolheu a égua da família, Jubilee, e a ligação entre as duas foi crescendo até alcançar um patamar quase telepático. Incapaz de orientar a parceira através de pequenos toques com os pés, foi obrigada a desenvolver um sistema tão subtil como variações de peso, inclinações de costas e outras pequenas referências. Jubilee era, verdadeiramente, a extensão do corpo de Hartel.

Os resultados voltaram a aparecer e os Jogos Olímpicos de 1952 foram a oportunidade perfeita. Ao contrário das edições anteriores, o acesso estava não tinha condicionantes. Pela primeira vez numa prova, homens e mulheres estariam a competir pelas mesmas medalhas. E Lis Hartel, apesar de todas as dificuldades, não vacilou rumo a um lugar especial na história olímpica.

O par Hartel/Jubilee somou 541,5 pontos e garantiu a medalha de prata, ficando apenas atrás, por 15 pontos, do sueco Henri Saint Cyr e do Master Rufus. Mais do que a barreira física, Hartel derrubou a barreira dos sexos.

Lis Hartel tomou-lhe o gosto e repetiu a façanha quatro anos depois, nos Jogos Olímpicos de Melbourne… embora as provas de equestre se tenham realizado em Estocolmo devido às proibições de transporte de cavalos.

Com duas medalhas de prata, Lis Hartel abandonou a carreira desportiva e tornou-se uma importante voz de sensibilização para os problemas da poliomielite e para as vantagens da terapêutica adequada. Era o exemplo perfeito.

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