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É Desporto

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15 de Janeiro, 2018

Jogámos contra as sub-19 do Sporting. E sobrevivemos (por pouco)

Rui Pedro Silva

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Uma equipa formada em duas semanas através da agenda telefónica e das redes sociais tentou fazer frente à campeã nacional de futebol feminino em sub-19. Chegou a parecer muito pior do que acabou por ser e o resultado final permitiu-nos sair de cabeça levantada.

 

Cobaia de preparação

 

Não lhe chamemos tradição, apenas uma experiência que vai no terceiro ato. O objetivo é reunir onze jogadores em cima do joelho que consigam defrontar uma equipa de futebol feminino e ajudar na preparação.

 

Tendo estado quatro anos no 1.º Dezembro durante o período áureo da equipa de futebol feminino, nunca tinha estado envolvido num jogo destes. Ouvia colegas que falavam de jogos passados, quando os juvenis defrontaram as campeãs nacionais, mas entre 2002 e 2006 não houve nada nesse contexto.

 

Foi preciso esperar até 2012 para finalmente se defrontar uma equipa de futebol feminino. Foi o ano em que foram criadas a 13 de Abril e 13 de Julho, ao bom estilo paraguaio, onde as equipas são batizadas de acordo com datas importantes. Neste caso, os nomes não são mais do que os dias dos jogos contra as campeãs nacionais de futebol feminino. Na altura, uma vitória para cada lado.

 

Evolução do futebol feminino

 

O pedido para arranjar uma equipa que pudesse defrontar as sub-19 do Sporting, campeãs nacionais em 2016/2017 surgiu nos últimos dias do ano. O treino era para ser feito na segunda semana de janeiro e havia o tempo necessário para garantir que se arranjavam pelo menos dez jogadores (a guarda-redes seria fornecida pelo adversário) com experiência em futebol de onze e capazes de manter a qualidade competitiva de outros tempos.

 

É boa altura para deixar uma nota especial: esqueçam tudo o que acham ou pensam que sabem sobre o futebol que se vê na televisão ou mesmo ao vivo. Esqueçam o «como é que aquele falhou aquilo?», o «como é que não chegou àquela bola?» e o «até eu fazia aquilo». Sobretudo o último.

 

Se fosse fácil, era para todos nós, mas só alguns, muito poucos e poucas, continuam por lá. E este foi um dos obstáculos para arranjar uma equipa: a falta de noção do que é defrontar uma equipa, campeã nacional, que treina várias vezes semanalmente e que tem rotinas coletivas que dez ou onze pessoas avulso não conseguem replicar.

 

Outro passo importante a dar foi garantir que não se arranjavam apenas jogadores com experiência federada em futebol de onze, mas sim formar um onze em que cada um conseguisse jogar na posição – ou semelhante – em que o fazia no passado. Mesmo que fosse preciso recuar a uma década em que nenhuma das atletas do adversário tinha nascido.

 

Estrada da beira vs. Beira da estrada

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Quando a hora do treino chegou éramos exatamente dez. Chegámos a ser doze, chegámos a ser nove, mas na hora da verdade tínhamos o número absolutamente necessário para entrar em campo e fazer o que era preciso.

 

Não era uma equipa saída dos brindes das caixas de cereais mas pode não ter andado muito longe disso. O período de aquecimento ajudou a acentuar as diferenças entre as sub-19 do Sporting e a nossa equipa: de um lado, o plantel organizado, equipado todo da mesma forma e repetindo uma rotina de preparação que deve ser seguida há mais de quatro meses. Do outro, dez jogadores entre os 21 e os 44 anos aqueciam individualmente, tinham uma bola e aproveitavam o tempo para tentarem saber o nome uns dos outros.

 

A nossa equipa tinha um propósito: dar um contexto competitivo diferente ao adversário, ajudando-os na preparação para os jogos futuros. Neste caso, o duelo com o Futebol Benfica, terceiro classificado.

 

«Mas isso é um jogo difícil, não é? E… pediram-nos a NÓS para ajudar?», disse um, bem-disposto. A verdade era essa: não sabíamos exatamente o que esperar. Primeiro, não sabíamos o que conseguiríamos valer enquanto conjunto, depois não havia qualquer experiência a defrontar uma equipa feminina de sub-19.

 

Por outro lado, tínhamos uma vantagem. Nós, efetivamente, tínhamos experiência federada em futebol de onze. Por razões difíceis de entender, os quadros competitivos do futebol feminino fazem com que o escalão de sub-19 seja de futebol de nove. Ou seja, também para o Sporting seria uma experiência diferente e importante para começar a pensar no futuro.

 

«Eles nem respiram!»

 

Os primeiros minutos de jogo confirmaram as nossas piores expetativas. Sim, conseguíamos posicionarmo-nos em campo com relativa inteligência na organização defensiva, mas o caso mudava de figura sempre que era preciso recuperar a bola e fazer algo mais.

 

A inteligência tática do Sporting, a construção ofensiva e as rotinas na saída para o ataque deixavam-nos como baratas tontas à procura de uma bússola que nos ajudasse a perceber onde era o Norte. Fechávamos os espaços, impedíamos estragos maiores na defesa mas nem a cheirávamos. Andávamos a correr atrás da bola e, quando a recuperávamos, dificilmente fazíamos três ou quatro passes consecutivos.

 

Entretanto, à boa moda do futebol de formação, os pais na bancada estavam entusiasmados e deixavam escapar as suas análises mais frontais. «Eles nem respiram! Vamos para cima deles! Eles nem respiram!» Era uma análise injusta: estávamos a respirar, muito mal e com as pernas pesadas, mas estávamos a respirar.

 

O pedido que nos tinha sido feito implicava tentar fazer pressão a dois terços do terreno. «Na primeira parte talvez seja possível; na segunda, com o desgaste, se calhar só com o autocarro», brincámos, prevendo que o passar dos minutos provocaria o descalabro.

 

Nem tudo é o que parece

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A primeira parte acabou com o Sporting a vencer por 1-0, marcando na melhor e talvez única oportunidade que teve. Do nosso lado, uma bola no poste e pelo menos um lance na cara da guarda-redes não concretizado.

 

A sensação do intervalo (primeira parte de 35 minutos) foi de alívio. Não só porque daria para descansar as pernas, como permitiria fazer o balanço do que estava a correr mal e os ajustes necessários para que a segunda parte fosse diferente.

 

Entre as medidas a tomar no meio-campo para melhorar a pressão e garantir que se teria mais bola no ataque, deixavam-se escapar os elogios à qualidade técnica e ao talento das adversárias. Para muitos, foi o primeiro contacto direto com o futebol feminino. Escusado será dizer que que as expetativas foram melhoradas… em muitos níveis.

 

A capacidade técnica, a qualidade tática, o poder de sair em construção de forma inteligente – mesmo que jogando contra nós – foram características que não passaram em claro a nenhum de nós. Nem podiam. Ao mesmo tempo, resistia a ideia de que poderíamos fazer muito melhor.

 

E fizemos. Conseguimos ser mais equipa na segunda parte e, logo no primeiro lance, chegámos ao empate, depois de este que vos escreve ter saído e dado lugar ao marcador do golo, um elemento da equipa técnica dos leões que estava preparado para ajudar caso fosse preciso ir rodando.

 

Uma desforra em perspetiva?

 

O jogo acabou com o empate a um golo. Tivemos um golo anulado que deixou dúvidas (dentro de campo até o lance mais óbvio nos pode dar dúvidas) e ao mesmo tempo beneficiámos da defesa da noite, com uma guarda-redes emprestada.

 

Jogámos com as sub-19 do Sporting e sobrevivemos. Por pouco. Conseguimos garantir o propósito de dar um treino competitivo mas as diferenças foram óbvias: de um lado, as dores musculares continuaram para a semana seguinte, do outro, apenas três dias depois já havia novo jogo, agora a contar oficialmente, com o Futebol Benfica.

 

Foi uma boa experiência. Uma experiência que nos deixou a todos a pensar numa nova oportunidade que permita uma desforra. Falta saber para que lado cairá. 

RPS 

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