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É Desporto

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06 de Fevereiro, 2020

Jim Thorpe. O bicampeão tramado por um punhado de dólares

Especial Jogos Olímpicos (Estocolmo-1912)

Rui Pedro Silva

Jim Thorpe

Norte-americano de origem índia dominou provas do pentatlo e do decatlo de forma esmagadora nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912. Com um talento inigualável para inúmeras modalidades, acabou sem as medalhas depois de ter sido publicada uma notícia de que teria recebido alguns dólares para jogar basebol de forma semi-profissional.

Dois dos avós – um de cada lado – eram índios (americanos nativos) e Jim Thorpe cresceu no seio de uma tribo. As longas caminhadas que fazia na pradaria, aliadas às inúmeras tarefas a lidar com o gado, serviram de cocktail explosivo para que se pudesse tornar num talento com uma qualidade inacreditável.

Não havia uma modalidade única para Jim Thorpe e a estreia em Jogos Olímpicos em 1912, em Estocolmo, ajudou a provar isso mesmo. Apesar de ter participado também em categorias individuais, foi no pentatlo e no decatlo que o norte-americano fez verdadeira diferença. No pentatlo (lançamento do dardo, lançamento do disco, salto em comprimento, 200 metros e 1500 metros), perdeu apenas a primeira prova e ganhou sem dificuldade o concurso global.

A supremacia foi ainda mais evidente no decatlo. Ganhando com uma vantagem de praticamente 700 pontos, fixou um recorde (8412) que seria inultrapassável durante duas décadas. Estocolmo marcou a estreia das duas provas e Jim Thorpe não ofereceu qualquer margem para dúvida: era o atleta mais completo da edição.

O rei da Suécia, Gustav V, e o czar russo, Nicolau II, ficaram impressionadíssimos com o desempenho de Thorpe e fizeram questão de cumprimentá-lo e agraciá-lo com ofertas especiais. Para aquele modesto homem da região do Oklahoma, tudo aquilo era uma dimensão diferente daquela à qual estava habituado.

A glória olímpica não chegou a durar um ano. Quando uma publicação norte-americana divulgou uma notícia que revelava que Thorpe tinha recebido alguns dólares numa liga semi-profissional em 1911, a associação atlética norte-americana informou o Comité Olímpico Internacional e contribuiu para a sua desqualificação.

Jim Thorpe não negou, mas acentuou que era algo que muitos faziam. Ele, ao contrário de outros, não se escondeu atrás de pseudónimos. E mais: recordou que o dinheiro recebido dava para pouco mais do que para o transporte. Era uma soma irrisória.

Sem medalhas mas com o orgulho intacto – os vice-campeões recusaram receber as distinções retroativamente por reconhecerem a supremacia de Thorpe -, o futuro marcou mais de uma década ligado ao desporto de elite.

O «Caminho Luminoso», como respondia pelo seu nome índio, não teve dificuldade em continuar a brilhar e esteve seis épocas na MLB, passando por equipas como os New York Giants e os Boston Braves. No total, conseguiu sete home runs. Depois, na viragem da década, esteve ligado ao nascimento da NFL, jogando por seis equipas diferentes entre 1920 e 1928. Além de ser kicker, também registou seis touchdowns – todos em corrida – durante a sua aventura.

O homem que também jogou basquetebol, numa equipa preenchida exclusivamente por nativos americanos, morreu de ataque cardíaco enquanto jantava em 1953 e nunca foi perdoado pelo Comité Olímpico Internacional em vida, por muitas tentativas que tivessem sido feitas.

Apenas 30 anos após a sua morte, em 1983, o organismo decidiu finalmente voltar atrás e entregar as medalhas aos filhos de Thorpe. Foi a justa homenagem àquele que continuou a ser considerado como o desportista mais completo do século XX.

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