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É Desporto

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07 de Julho, 2020

Hamadou Djibo Issaka. Remar para a história

Rui Pedro Silva

Hamadou Djibo Issaka

Gostava de água e até era um nadador apaixonado mas nunca pensou que um dia poderia estar nos Jogos Olímpicos. Aconteceu em Londres, em 2012, no remo. O homem do Níger foi convidado três meses antes e não virou as costas ao desafio, mesmo que estivesse destinado a ser visto como uma aberração pelos rivais.

Hamadou Djibo Issaka foi o Eric Moussambani dos Jogos Olímpicos de Londres. Não tinha talento para ser atleta olímpico mas beneficiou das iniciativas globais do Comité Olímpico Internacional para levar cada vez mais modalidades a mais países e acabou por ser o representante do Níger, um país com muito pouca água, na competição de remo.

Jardineiro de profissão e nadador nos tempos livres, Issaka aceitou o repto três meses antes do início da competição e lançou-se num plano de preparação que exigia, acima de tudo, que aprendesse a remar.

As primeiras lições surgiram no Egito mas depois prosseguiu o planeamento na Tunísia. Conquistando o disputadíssimo, ou talvez não, campeonato nacional de remo no Níger, surgiu em Londres feliz, entusiasmado e determinado em mostrar a todos o orgulho de um país. E nada mais do que isso.

Na primeira prova em que participou, de dois mil metros, demorou mais de oito minutos a cumprir a distância, terminando praticamente a um minuto do penúltimo classificado. Enquanto os favoritos iam avançando rumo à luta pelas medalhas, Issaka entrava de rompante nas manchetes da imprensa um pouco por todo o mundo.

Apaixonados por histórias de desajeitados sem grande talento para o que fazem, os jornalistas foram dando cada vez mais destaque à pessoa por trás do atleta. O público mordeu o anzol e começou a preocupar-se em acompanhar o que poderia fazer o nigerino na competição. Só havia duas coisas garantidas: o último lugar e os fortes aplausos.

Os rivais – e históricos remadores – não agradeceram propriamente a presença de um intruso a roubar a atenção da essência da modalidade. O histórico Steve Redgrave foi um dos que lançou críticas à organização, garantindo que não encontrava qualquer razão que valesse a pena para Issaka estar a competir, retirando lugar a atletas com mais qualidade.

A verdade é que Issaka, tal como Moussambani, e muitos outros pelo caminho, não tiram lugar a ninguém. Têm uma quota específica pensada ao pormenor para criar paixão por novas modalidades um pouco por todo o mundo e, quem sabe, inspirar novas gerações de atletas.

Dentro de água, claro, Issaka não fugiu ao seu destino. Terminou em último lugar na repescagem, em último lugar na meia-final dos piores classificados e… em último lugar da final F. Foi, portanto, o último dos últimos dos últimos dos últimos. Ou, se quisermos ver o copo meio-cheio – de uma forma bastante mais interessante –, o primeiro remador do Níger em Jogos Olímpicos.

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