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É Desporto

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03 de Fevereiro, 2020

Francisco Lázaro. O fim trágico do primeiro português olímpico

Especial Jogos Olímpicos (Estocolmo-1912)

Rui Pedro Silva

Francisco Lázaro

Ganhar ou morrer. A premonição de Francisco Lázaro antes de partir para a maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, revelou-se uma profecia dramática. Uma escolha errada para proteger o corpo do sol poderá ter sido o dínamo para uma morte que entrou na história de Portugal e dos Jogos Olímpicos. O primeiro atleta português a entrar em ação numa edição olímpica foi também a primeira morte em prova do evento.

Quem visita o Estádio Olímpico de Estocolmo hoje em dia é deparado com duas placas, junto à porta da maratona, que assinala a história de Francisco Lázaro. À esquerda surge em sueco; à direita em português. O texto não deixa dúvidas sobre o que aconteceu.

«A maratona nos Jogos Olímpicos de 1912 foi realizada no dia 14 de julho de 1912 sob um calor de verão escaldante. Do Estádio Olímpico de Estocolmo, saíram 69 corredores, e o percurso seguia, através de pontos de abastecimento em Silverdal e Tureberg, até o ponto de regresso em Rotebro. O estádio estava lotado, e milhares de pessoas alinhavam-se ao longo do percurso de 40,2 km. Apenas 34 corredores completariam contudo, esta a corrida [sic] muito exigente.

O jovem corredor Português Francisco Lázar encontrava-se no 18.º lugar no ponto de abastecimento em Silverdal, aos 30 km. Pouco depois, junto a Mellanjärva, Lázaro foi-se abaixo sob o sol implacável e acabou por ficar inconsciente na pista. A ajuda médica surgiu rapidamente em cena e um carro levou-o para o hospital Serafimerslasarett. Não foi contudo possível salvar-lhe a vida e na manhã seguinte o corredor de quase 20 anos de idade faleceu, sem ter recuperado a consciência.

O destino trágico de Lázaro abalou o povo sueco, e um serviço comemorativo com mais de 20000 participantes foi realizado no Estádio Olímpico de Estocolmo. O programa incluía a prática de modalidades desportivas, canções e música, e foi lançada uma grande queima de fogo-de-artifício, que terminou com um grande “L” de Lázaro em letra de fogo nos céus da noite. Uma coleta juntou um total de 14 000 SEK (uma grande soma de 1912 [sic]), que foi doada a sua jovem esposa e o seu filho, nascido após a partida de Lázaro para os Jogos de Estocolmo.

Estocolmo 1912 foram os primeiros Jogos Olímpicos em que Portugal participou como nação. Francisco Lázaro foi a primeira vítima fatal dos Jogos Olímpicos modernos.»

O que não conta a placa em Estocolmo? Que a história de Francisco Lázaro é tudo menos simples e que as teorias que existem são muito diferentes. Será que cometeu o erro trágico de cobrir o corpo com sebo, uma gordura animal que o ajudaria, julgava ele, a proteger a pele dos raios solares? Este episódio do podcast Tocha Olímpica tenta explicar melhor a situação.

O cero é que, num dia com um calor abrasador, com mais de 30 graus centígrados, o corpo de Francisco Lázaro tornou-se uma bomba-relógio, cada vez mais quente e à beira de explodir. O atleta de Benfica, que corria para e do trabalho em São Sebastião da Pedreira, entrou em desequilíbrio hidro-eletrolítico irreversível. Completamente desidratado e com o corpo demasiado quente, Lázaro entrou em falência e não voltou a recuperar a consciência. 

Francisco Lázaro foi um pioneiro e 74 anos depois viria a ser precisamente na maratona que Portugal conquistaria o primeiro título olímpico: Carlos Lopes em Los Angeles-1984.

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