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É Desporto

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16 de Agosto, 2016

Christian Taylor. Começar de novo… com a outra perna

Rui Pedro Silva

Christian Taylor com Nelson Évora nos Mundiais de Pequim/IAAF

Lesões no joelho esquerdo obrigaram norte-americano a esquecer tudo o que fazia e passar a efetuar o derradeiro salto com a perna direita. Recompensou: já ficou a oito centímetros do recorde de Jonathan Edwards e é o grande favorito a conquistar o título olímpico. 

 

Grandes problemas, grandes soluções

 

«Estava com muitas dores no meu joelho mas não podia deixar que isso me prejudicasse. Quando contei o plano ao meu treinador, ele disse que isso seria muito improvável. Mas senti que, havendo algo a incentivar, nada me poderia parar. Quando tens as costas contra a parede, tens de lutar ou morrer. Eu decidi aceitar o desafio.»

 

Christian Taylor, nascido a 18 junho de 1990, chegou a 2013 com tudo no palmarés. Fora campeão mundial em 2011 e no ano seguinte, em Londres, conquistara o ouro nos Jogos Olímpicos. Além disso, era jovem e com uma boa margem de progressão.

 

Mas não era jovem o suficiente para escapar à herança familiar. Do lado da mãe, o histórico de lesões e operações no joelho é grande, por culpa de um problema congénito. Como saltador, Christian Taylor parecia estar a acelerar a condição.

 

O pai Ian, dos Barbados, recorda que foi um ano difícil. «Recebi vários telefonemas de outros treinadores. A maior parte pensou que a carreira dele tinha acabado», recorda. O médico especialista sugeriu que Taylor repousasse mas o norte-americano tinha outra solução em mente: transferir o peso para o outro joelho, começando a fazer o derradeiro salto com a perna direita.

 

Risco e recompensa

Christian Taylor

«Foi um risco enorme», afirma Rana Reider, treinador de Christian Taylor. «É muito arriscado trocar de apoios a meio da carreira mas, a pensar na longevidade dele, foi algo que tivemos de fazer. Deitámos tudo o que tínhamos consolidado para o lixo de forma a poder recomeçar.»

 

Para Christian Taylor, nunca houve dúvidas sobre a decisão a tomar, especialmente depois de ter sido quarto nos Mundiais de 2013: «Era a minha única opção. Quando não és primeiro, és último. Talvez não seja a melhor coisa para se dizer nesta situação mas é a mentalidade que tenho.»

 

O ano seguinte foi de treino intensivo. Sem Mundial nem Jogos Olímpicos, teve tempo para consolidar a nova dinâmica e tentar melhorar. No Meeting de Bruxelas, numa das primeiras provas a sério, saltou 16,89 metros. Nesse momento, sentiu que o risco ia compensar.

 

«Se consigo fazer quase 17 metros sem treino, tenho a certeza que consigo tirar alguma coisa daqui», pensou.

 

E pensou bem. No ano passado, nos Mundiais de Pequim, fixou a segunda melhor marca mundial de sempre, com 18,21 metros, a apenas oito centímetros do recorde de Jonathan Edwards. Hoje, no maior palco mundial, e com Nelson Évora como adversário, haverá nova oportunidade para tentar fazer história. Mesmo que não bata o recorde, poderá tornar-se o primeiro bicampeão olímpico na competição desde a década de 70.

 

Obsessão por Jonathan Edwards

 

O triplo salto surgiu mais ou menos por acaso na vida de Taylor. O pai Ian fez-lhe ver desde cedo que não iria pagar as propinas na faculdade a alguém que demonstrava uma capacidade atlética fora do normal. A batata quente estava, por isso, nas mãos do filho: tinha de encontrar um desporto em que se destacasse.

 

Tentou a velocidade mas foi arrasado pelos adversários, o salto em comprimento era «aborrecido», o cross country não fazia sentido porque «correr 16 quilómetros para treinar não é normal» e o salto em altura foi descartado devido aos «maus joelhos». Apareceu o triplo salto.

 

A paixão começou com uma cassete VHS. Em alguns minutos, eram demonstrados as técnicas e como efetuar os saltos. Christian Taylor quis saber imediatamente qual era o recorde do mundo. No dia a seguir, foi com uma fita métrica para a escola, para confirmar na pista qual era a distância.

 

«Isto é impossível», pensou. Mas não desistiu e tornou-se obcecado: viu tantas vezes aquela cassete que passou a ser necessário recuar a fita com o dedo. E o mesmo aconteceu com as imagens dos 18,29 metros de Jonathan Edwards.

 

«Já vi, revi e voltei a ver de todos os ângulos. Sinto até que fui a fazer a aquele salto», confessa.

 

Não foi. Ainda, pelo menos. Christian Taylor não esconde a mentalidade forte que tem e insiste no objetivo de bater o recorde do mundo. É também por isso que salta sempre com duas inscrições dentro dos ténis: uma com 18,30 metros, que valerá o recorde mundial, e outra com 18,50 metros, a marca que um dia quer alcançar.

 

«Quando acontecer, não podem dizer que ficaram surpreendidos. É esta a mentalidade que tenho. É para isto que tenho trabalhado todos os dias.» 

RPS

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