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É Desporto

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10 de Setembro, 2016

Zuray Marcano. Não a deixavam fazer desporto, agora vinga-se

Rui Pedro Silva

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Quando era nova, os professores de educação física deixavam-na de fora e faziam-na anotar os resultados dos jogos nas aulas. No Rio de Janeiro, aos 62 anos, vai competir no halterofilismo e garante estar preparada para conquistar uma medalha. 

 

Do isolamento a Sydney

 

Zuray Marcano é a segunda atleta mais velha a competir nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Nascida a 26 de maio de 1954 na Venezuela, teve poliomielite com seis meses e ficou com deficiências para o resto da vida.

 

A infância e a adolescência foram os períodos mais complicados porque teve de lidar com o desconhecimento dos outros. «Não podia praticar desporto devido à ignorância e intolerância dos meus professores relativamente às incapacidades que tinha, por isso ficava a anotar as pontuações numa folha», lamenta.

 

As dificuldades nunca a intimidaram. Tirou o curso de professora, mais tarde fez o doutoramento em Bilbau, e nunca ignorou o desejo de praticar desporto. Começou por tentar o atletismo e a natação mas, a partir dos 35 anos, concentrou-se no halterofilismo.

 

Na Austrália, em 2000, estreou-se em Jogos Paralímpicos. «Lembro-me de estar na cerimónia de abertura a pensar que os meus colegas mais talentosos no desporto nunca tinham chegado aos Jogos Olímpicos e eu, que só anotava os resultados, estava prestes a competir nos Paralímpicos», comenta.

 

Luta pelas medalhas

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Marcano foi oitava em Sydney na categoria de -48 quilos após levantar 62 quilos, numa variante em que os atletas estão deitados num banco e levantam o peso apenas com a força dos braços.

 

A venezuelana não tinha aspirações mas soube aproveitar a experiência: «Beneficiei muito. O objetivo era mostrar a toda a gente no meu país que também podia praticar desporto.»

 

Dezasseis anos depois, no Rio de Janeiro, a fasquia está mais elevada. «Tive mais anos para me preparar, tenho muito mais experiência e vou poder lutar por uma medalha», diz a atleta que participará na categoria de -50 quilos.

 

Já avó, Zuray concentra-se em provar que a idade interessa pouco e que o mais importante é ter um estilo de vida saudável: «Recentemente perguntaram-me se tinha a fórmula para a eterna juventude, porque o meu corpo não corresponde à idade. Não há segredos, mas levo um estilo de vida saudável. É preciso saber comer, praticar desporto, controlar o stresse e a ansiedade, e ter maturidade emocional.»

 

Legado na América do Sul

 

A primeira edição da competição nos Jogos Paralímpicos na América do Sul é um dos fatores mais importantes para a venezuelana. Determinada em demonstrar que a sua paixão pelo halterofilismo está viva, realça que «todos os Paralímpicos deixam um importante legado na cidade que os acolhe».

 

«Estes serão especialmente importantes porque vão ajudar a aumentar a sensibilidade para os paradesportos e para as deficiências na América Latina», acrescenta.

 

A título individual, quer continuar a superar-se. «A vida é cheia de surpresas. Não só me convenci que podia praticar desporto como estou a mostrar que posso fazê-lo ao mais alto nível.»

 

RPS

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