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É Desporto

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15 de Setembro, 2017

MasterCard Lola. Uma equipa sem crédito para a F1

Rui Pedro Silva

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Participar na Fórmula 1 era a ambição de Eric Broadley e a MasterCard precipitou o sonho como patrocinadora. A pressão de entrar o mais cedo possível deu mau resultado e só foi preciso uma qualificação para surgir o pesadelo. 

 

Uma música pouco premonitória

 

Eric Broadley criou a Lola Cars em 1958. O primeiro carro foi um Lola Mk1 e o nome inspirou-se na música «Whatever Lola Wants». Se no tema Lola consegue ter tudo o que quer, a vida real mostrou ser muito diferente.

 

Lola queria chegar à Fórmula 1. Lola queria fazer a diferença na Fórmula 1 e, quem sabe, lutar por um título mundial. Lola era ambiciosa e Eric Broadley era a cara desse espírito.

 

Durante praticamente quatro décadas, Broadley foi penetrando no mundo do desporto automóvel até chegar o momento decisivo: era agora ou nunca. Depois de anos sucessivos de testes, a MasterCard foi seduzida pela possibilidade de dar o nome a uma equipa da Fórmula 1.

 

Estávamos em 1996. O objetivo era marcar a estreia para a temporada de 1998 mas, como sempre, quem tem o dinheiro raramente tem paciência. E assim, de um momento para o outro, a marca lançou um ultimato: ou se começava em 1997 ou não havia dinheiro para ninguém.

 

Uma missão impossível

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Não era apenas um contra-relógio que estava em causa. O ultimato pusera em causa todos os limites expectáveis que permitissem a construção de um carro competitivo mas não havia grande coisa que Eric Broadley pudesse fazer.

 

Sem tempo sequer para parar para se queixar, a solução foi tentar cumprir o impossível. Sem tempo para fazer todos os ajustes, afinações e testes que o carro precisava, o caminho foi… esperar um milagre e tentar contornar o inevitável: uma aventura destinada ao fracasso.

 

Estávamos em 1997. Damon Hill tinha sido campeão do mundo e no paddock havia pilotos como Michael Schumacher, Jacques Villeneuve, Mika Häkkinen, David Coulthard e Heinz-Harald Frentzen. E na Lola? O italiano Vincenzo Sospiri e o brasileiro Ricardo Rosset.

 

A 7 de março, a estreia na primeira sessão de testes do Grande Prémio da Austrália nem foi má de todo. Sim, a dupla foi a mais lenta mas Rosset estava a apenas dois décimos do Minardi de Ukyo Katayama. Havia espaço para sonhar e margem para melhorar, pensavam.

 

Afinal não. Tudo o que viria a acontecer era pior do que o que tinham conseguido até então. A diferença de andamentos era clara e o equilíbrio justificava-se com a quantidade de combustível que os pilotos tinham levado para a primeira sessão de testes.

 

Pouco depois, na segunda sessão, o choque com a realidade foi frio: o terceiro mais lento, Damon Hill, estava agora seis segundos mais rápido do que a dupla da MasterCard Lola. Nem mesmo a outra equipa estreante, a Stewart, apresentava resultados tão maus.

 

Os tempos não eram apenas maus: eram terríveis o suficiente para os pilotos não terem sequer tempo para participar na corrida. E assim foi: no fim-de-semana de estreia, não houve oportunidade para ver os semáforos verdes.

 

Contra-relógio para o abismo

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Os sinais dados eram muito pessimistas. Até à segunda corrida do calendário, no Brasil, havia três semanas e a equipa tentou melhorar o carro com testes em Silverstone. Mas nada: não havia melhoria, apenas mais do mesmo: um ritmo impróprio para a Fórmula 1.

 

A MasterCard começou a perceber ao que ia. Depois de se ter deixado levar pela ilusão de angariar clientes num segmento de mercado elevado, percebeu que ninguém ia querer ficar associado a uma equipa que, por razões diretas e indiretas, estava destinada ao fracasso.

 

O Grande Prémio do Brasil não passou de uma ilusão. A comitiva chegou a viajar mas os carros não saíram para a pista. «A equipa vai regressar a Inglaterra devido a alguns problemas operacionais, tanto de ordem técnica como financeira», anunciou um porta-voz.

 

Era mais grave do que se pensava

 

Com praticamente sete milhões de euros de prejuízo, a Lola não ia conseguir sobreviver sem dinheiro. O otimismo de Broadley, desiludido com os resultados na Austrália mas confiante numa evolução crescente que começaria com a qualificação no Brasil, abriu caminho para a inevitabilidade.

 

«Foi uma questão de calendário. No nosso caso, precisávamos de dinheiro antecipado porque é agora que o investimento é necessário. O balanço das finanças era desfavorável. Tentámos encontrar fundos alternativos, incluindo outros patrocinadores, mas estávamos atrasados neste programa, atrasados em preparar os carros e atrasados a chegar até aos investidores», explicou.

 

O carrossel de emoções tinha tido um final tão abrupto quanto o seu início. Afinal, apenas algumas semanas antes, Broadley tinha garantido que a empresa estava pronta para este desafio e apontava ao título num espaço de quatro anos.

 

«Não estamos à espera de grandes resultados esta época, temos muito para aprender». Broadley tinha razão. E aprendeu rápido que a MasterCard Lola era uma equipa sem crédito para competir na Fórmula 1.

RPS/AG 

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